quarta-feira, 14 de julho de 2010

Estética

Rubem Fonseca já foi comissário de polícia. Sua função era semelhante à de um juiz de paz. Intuía com maestria a angústia dos que se envolviam na marginalidade e sabia acalmar ânimos e conflitos. Depois caminhou para a literatura. Pelo seu estilo preciso, e altamente verossímil, percebe-se que ele não mudou de ares. Continua sendo um juiz de paz, de si mesmo. Quando descreve, com invejável riqueza de detalhes, personagens complicados e relata a violência brutal com uma naturalidade banal, como se tomasse um copo d’água, não está necessariamente prestando um serviço à sociedade. Pode, pelo contrário, até alimentar, admitir erroneamente a sedução pela opressão. Atiça nos leitores, sempre vulneráveis à imponência do autor, este espectro mórbido, tão impulsionado pela mídia e tão aceito pela população.
Ele, porém, deve sair beneficiado. Parece que canaliza todo seu lado cruel, rude, selvagem, prestes a explodir, em suas criativas histórias. Seus textos são sua catarse interna. A mim assustam pela perfeição estética. Esta estrutura engana, como se nos atraísse para o abismo de um mundo vil. Sua linguagem direta conduz para um labirinto pornográfico que envolve nossa alma como se fôssemos crianças diante de um adulto bravo. E nestas situações covardes, os adultos têm sempre razão. Essa pelo menos é a impressão, muitas vezes falsa. Fico acuado ao sentir que o laureado Rubem Fonseca tem sempre razão. Tenho medo de Rubem Fonseca, um escritor bandido.

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