terça-feira, 27 de julho de 2010

Mictório

O aluno fez pirraça com o colega. Chacoalhou-o enquanto urinava no mictório. “Vou dedar”, disse a vítima, com a camisa molhada. E foi ao diretor, na sala do andar abaixo. Todos os professores estavam reunidos quando o arteiro foi chamado. Esperava uma advertência, já ciente de que errara. Mas não. O homem, trombeteando voz grave, decretou, ao estilo da ditadura então vigente. “Tira a sua camisa agora e bota esta molhada”. O menino ficou constrangido, na frente de todos, enquanto se arrepiava com o gelado meloso em sua pele. “Você vai trazê-la limpa até quinta-feira”. O repressor poderia até achar que estava fazendo o certo. Mas para um educador, não é bom deixar mágoas. E desde então, até virar adulto, sempre que ele se lembra daquela figura autoritária, não é envolvido por um sentimento de confiança. Penetra por suas narinas o cheiro vaporoso do xixi.

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