quarta-feira, 7 de julho de 2010

Retumbante

As olheiras escuras mostravam abatimento. A barba, estava por ser feita. Ele não conseguia mais esconder a calvície que se abria em seus cabelos encaracolados. Beirava os 50 anos e sequer tinha uma propriedade em seu nome. Quando dei três tapinhas em suas costas, dizendo-lhe até amanhã, percebi minhas mãos se aquecerem. Um calor emanava, pulsante. E atravessava a camisa de gola amassada por um dia de trabalho. Sempre fora idealista. Agora se sentia desgastado, oprimido em frente ao computador.
Os tapinhas ressoaram fundo, em um som oco que parecia um desabafo engasgado. Se eu pudesse transformar em frases aquela sonoridade que só os amigos sabem escutar, diria que seu corpo estava falando, em tom de lamento, aquilo que não conseguia comunicar em palavras. “Eu sou um homem bom, eu sou um homem bom”, foi o que ouvi.

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