sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Sinai

Imigrantes judeus já moraram em amplas tendas de acampamentos para construir Israel nos anos 40 e 50. Médicos europeus tiveram de aprender a plantar cebola, dentistas e intelectuais se esforçaram para saber como colher laranjas e trabalhar em obras, com pá e inchada nas mãos desacostumadas com a labuta. O idealismo fez Israel renascer, se defender de países hostis, em busca de suprir as necessidades básicas e humanas de um povo. Quando Israel venceu a Guerra dos Seis Dias, a população saiu às ruas aliviada, festejando a continuidade do país, que esteve seriamente ameaçada. Hoje, a hostilidade ainda existe, porém aliada ao fenômeno da globalização, que trouxe junto o consumismo, as exigências materiais - muitas delas fúteis -, modificando o perfil do povo israelense. Por outro lado, a corrupção, a ganância e a especulação crescem em proporção semelhante. Parece um pouco o episódio dos judeus adorando a estátua de ouro, se esquecendo de seus períodos difíceis, melindrando-se como crianças mimadas contra o líder Moisés que não regressava do Monte Sinai, trazendo as tábuas da lei, o código de moral que valoriza a ética, o respeito ao próximo, o desapego de bens materiais não tão relevantes, a solidariadade. As reivindicações hoje são por moradias melhores, em maior número, em um país com desemprego controlado, que não tem desabrigados. A Saúde e a Educação, apesar das dificuldaes, se mantêm em um patamar de primeiro mundo. O governo, bom ou mau, diferentemente da maioria dos países do Oriente Médio, foi democraticamente eleito. Nestas manifestações, cada um parece estar falando por si, o que não é bom para Israel. Não será surpresa se daqui a pouco a população exigir melhores i-pods, blues skies, ou aparelhos cibernéticos de última geração. A mistura entre essência trabalhista, socialista e a realidade capitalista estão confundindo a identidade do país, cujo foco principal deveria ser o judaísmo, que abarca com sabedoria tanto o socialismo quanto o capitalismo. Manifestações são direito de qualquer sociedade. Porém, a humildade precisa voltar a esta Israel distanciada de seu espiritualismo, envolvida pelas tentações e conflitos da modernidade. Tempos bem mais difíceis ficaram para trás, o país se consolidou como potência tecnológica, porém é preciso manter os pés no chão. Sem paranoia, mas com serenidade e um pouco do antigo idealismo. O mundo mudou. Israel, com ele. Mas duas coisas se perpetuam: uma é a necessidade de o governo financiar a segurança, o que demanda grande parte do orçamento. Outra é o Monte Sinai. Ele continua o mesmo. De lá, a voz trovejante de Deus e os passos decididos e cansados do velho Moisés ainda ecoam. E se espalham por todas as sinagogas, como a razão de ser do judaísmo - o combustível de uma nação. A verdadeira morada onde habita o coração de um povo.

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