segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Frios

As cartas de Voltaire são um prenúncio da era dos blogs na internet. Ele fala da vida, dos costumes e da filosofia da sua época, o século XVIII. Um observador que observa e pouco se envolve. Apesar de ter vivido em uma época duríssima para os críticos, parece-me uma figura estranha. Nisto ele foi um gênio involuntário. Esparramou uma série de informações intelectuais para o leitor e escondeu seus sentimentos atrás delas. Antecipou, ou simbolizou, um fenômeno atual, típico de um tempo em que jornalistas mal conseguem demonstrar tristeza diante da morte de um colega. Ficam rondando com frases racionais, do tipo, “tinha um texto sofisticado” ou destilando informações concretas, sem a eloquência, a humildade e a sabedoria dos grandes. Mesmo em artigos opinativos, não conseguem deixar de demonstrar uma frieza assustadora. Transformam-se em intelectuais que escrevem para competir uns com os outros, muitas vezes alfinetando os leitores. Teclam com dedos de aço. Não deixa de ser um preconceito achar piegas qualquer texto borrado com uma lágrima, que transmita algum conflito pessoal, humano. Voltaire, entretanto, tinha um caráter profético. Foi inábil para, sem querer, deixar sua sombra aparecer junto com a luz de seu conhecimento. Foi presunçoso dizendo-se humilde, na generosidade de seu cinismo. Por isso mostrou-se um ser humano completo. Por ter sido grande como os maiores filósofos. E também pequeno e invejoso (ok, não posso fugir agora) como eu.

Um comentário:

  1. Sem nem um pouco de frieza, mas respeitosamente, gostei, acho que entendi, mas paro por aqui!!!

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