segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Goool

Às vezes penso que a imagem alegre do brasileiro esconde algo depressivo. Uma melancolia oculta que, em vez de dançar o triste tango, samba. E que gargalhadas até altas horas na mesa de bar, regadas a copos de cerveja, são sorrisos para espantar a tristeza. Muitas destas almas puras, tristes ou arrebatadoras, impulsivas ou comedidas, se foram eternizando sua fama de brasilidade: Garrincha, Noel, Ari, Sócrates, Nelson, Heleno, Flávio Costa, Telê, Zezé. Fui ao Museu do Futebol. Qualquer museu já é um lugar onde a contemplação namora o passado, eternizando o que no presente era efêmero e que concretamente acabou. Nos andares daquele galpão vi fotos, lances, ouvi narrações de muitos que já partiram. No fim, em 3D, há um filme em que Ronaldinho faz embaixadas em cenas intercaladas com um esqueleto humano controlando a bola. Cenas soturnas, com um fundo verdadeiro: a essência singela e triste do futebol brasileiro, feita de ossos e sonho. Bela alegoria que alivia e distrai. O futebol tenta driblar a morte. É uma negação dela. O gol simboliza a vitória da vida. Por isso o locutor demora tanto ao narrá-lo. O grito "Goooollll..." pode ser uma maneira de prolongar o quanto se puder a vida, até o último respiro. Antes dela morrer no fundo das redes. E se transformar em saudade.

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