quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Questionários

Uma professora contou que certa vez fizeram uma pergunta a um escritor brasileiro, em Londres. "O que o sr. sabe sobre literatura inglesa?" Ele respondeu, com um leve sorriso. “Tudo”. O episódio foi relatado em um curso de redação do qual participei. Aos risos, a presunção do escritor ficou idealizada. Algumas pessoas, no trabalho e nas relações pessoais, gostam de se gabar do que pensam, do que fazem, de como fazem. O time que escolhem é o melhor, o carro que compram é o mais bonito. Padronizam um jeito de ser aparente. Às vezes até uma postura silenciosa esconde uma falsa discrição. E o modelo é seguido por colegas, alunos, parentes, fãs, levantando nos ambientes uma poluição invisível. Eu, que pareço conhecer tudo sobre futebol, sou todo momento questionado por dois meninos, um de três outro de nove. Em jogos pela TV, o mais novo costuma perguntar o nome dos jogadores mais desconhecidos, de times estrangeiros ou sub-20, esperando de mim uma informação precisa. Fico sem graça e digo: não sei, vou pesquisar. O mais velho já me perguntou por que o foguete não substitui o avião se ele é mais rápido. Gaguejei. A curiosidade infantil, cheia de sabedoria, insiste em me colocar diante da minha ignorância. Pequenos questionários se transformam em grandes lições. É, acho que o tal escritor nunca teve de responder à pergunta de uma criança.

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