quarta-feira, 25 de julho de 2012

Baianos

As ondas, sensuais como a cintura de Gabriela, beijam a face de Ilhéus. Recebem o abraço da brisa, quando se diluem como sonhos na praia. Da dança invisível, vem o cheiro de cravo, a cor de canela. O gosto de cacau, de riqueza e de luxúria. O gosto amargo da miséria. A luz do sol aquece a areia branca. Sufoca o peito dos solitários, dos apaixonados, dos invejosos. Embriagados nas ruelas. Desesperados na igreja. Apoquentados nas construções rústicas. Toque de luar, piscar da noite estrelada. Chanel para as moças de joias pesadas. De sotaques e maquiagens fortes. Samba e swing nos cabarés. Sombrinha para as puras e seus vestidos suaves. Coroneis de trajes cinzas, com falas monótonas. Modernos de trajes claros, bigodes finos, aprumados. Mas sou eu quem escuta a trilha sonora que deles emana. Eles não podem, são protagonistas de enredos que encantam e expandem horizontes. Puro Caymmi, tranquilo em um barco de pescador na tarde alaranjada. Poente que se mistura à alma da cidade. Som colorido a penetrar no interior escuro do meu quarto. Cheio de turcos descabelados, atormentados. Feito de professores sonhadores. Personagens problemáticos, machistas, inseguros. O fundo do mar esconde o segredo: são todos ávidos por carinho. Não sei se Freud explica por que todo ladrão é moralista. Ele não conhecia o Brasil. Ele não amou a Bahia.

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