quarta-feira, 11 de julho de 2012

Plantinhas

A tia gostava de cultivar plantinhas em pequenos potes. Minúsculos, do tamanho de tampas de detergente e coisas parecidas. Ela as deixava na borda das janelas e na sacada. Regava, colocava para tomar sol, quase acariciava. Um dia seu marido de muitos anos foi levado para outra cidade e nunca mais se viram. Depois ela foi embora, para uma boa clínica, que a acolheu com respeito. Foi um fim de casamento repentino e implacável. Mas as plantinhas ficaram, tomando sereno, sorvendo os eflúvios da noite, se guiando pelo barulho do trem, avistando a paisagem urbana que ia do centro a Santana, retendo as histórias dos sobrinhos, que percorriam o apartamento atrás dos brinquedos, das revistas, se esbaldando no tapete de pele de carneiro. Elas ficaram por lá, carregando todas essas movimentações. Até murcharem de saudade.

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