quarta-feira, 4 de julho de 2012

Saudosos

Era uma senhora que não tinha filhos. Mas tinha irmãos e sobrinhos. Envelheceu com as agruras da vida, emagreceu, seu andar ficou trôpego, suas mãos trêmulas. Os olhos azuis, com nuances entristecidas, porém, não escondiam um brilho radiante de vida. A cada queixa, a cada lamento, a luz azulada aumentava, uma alegria emanava, como se suas pálpebras sorrissem para avisar que, no fundo, aquelas reclamações aparentes carregavam o bom humor de sempre. Em seu enterro, seus irmãos e sobrinhos foram fieis companheiros. Estiveram com ela até o fim, gratos, orgulhosos e já saudosos por terem compartilhado por anos sua adorável companhia, dividindo pequenos momentos que se transformaram em grandes histórias. Ela desbravou uma trilha de amor, seguida por herdeiros acima da herança biológica. Nada mais importante para uma pessoa do que ter quem a louve e quem chore por ela no momento da partida.

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