quarta-feira, 4 de julho de 2012

Campeão

De repente, aquelas buzinas ao longe, a agitação da cidade, a ansiedade no ar o remeteu a 1977. Ele era criança, o Corinthians disputava a final contra a Ponte, tentando sair de uma angustiante fila que só fez a torcida crescer no sofrimento. Não esperava ser pego, nesta distante época, mais mecanizada e instantânea, por sensação tão nostálgica, antes da final contra o Boca, 35 anos depois. Voltou a ser menino, reconstruiu então um caminho de júbilo. Mas havia um paradoxo. A própria modernidade sofre mudanças. O corintiano sofredor já não acreditava mais na velha retórica de que seu time treme em Libertadores. Assim como muitas reclamações jaborianas de que o mundo piorou, de que as pessoas foram aniquiladas pela pressa e pelos desejos fast-food, não faziam tanto sentido. Soavam repetitivas e arcaicas. Irrompeu-lhe uma volúpia, uma certeza avassaladora de que era hora de olhar para frente, alimentado pelas gostosas semelhanças com o passado. Sentiu que o Boca ainda não percebera a transformação. Viu os argentinos, ingenuamente, tentarem jogar no erro do Corinthians. Mas desta vez o Corinthians não iria errar. Seria, ainda mais do que em 1977, o inquestionável campeão. Neste momento, o passado e o presente, tão diferentes, se uniram acima dos tempos. Em com as cenas rodopiando em sua mente, as experiências de outrora se juntaram às esperanças de agora, para se tornarem um único elemento, vital para a continuidade de nossas vidas: a vitória que emerge da confiança.

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