segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Repetições

Mandei algumas perguntas a Amós Oz  por e-mail. Numa delas, citei a frase de Nelson Rodrigues, “eu não existiria sem as minhas repetições”. Perguntei ao escritor israelense se ele existiria sem as suas repetições. Esperei, esperei por alguma resposta. Enquanto isso, me lembrava de passagens de seus livros. Em De amor e trevas, ele conta a história de seu pai, um erudito cheio de ilusões, mas que nunca conseguiu a cátedra de titular da Universidade Hebraica de Jerusalém. Desde menino, Oz vivenciou esta busca frenética, jamais alcançada, como parte também de sua história. O drama de seu pai o tocou e o intrigou.“Ninguém ligou para as setenta e sete sabedorias de meu pai”, revelou na obra, com um misto de realismo e compaixão. O próprio escritor, porém, fez algo parecido. Nunca me respondeu. Nem deu bola para as “setenta e sete sabedorias” das minhas perguntas. Foi sua forma de me dizer que ele também não existiria sem as suas repetições.

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