quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Tentativa

O mundo real tem porões. Como se fosse um corpo ligado por veias e artérias. Nestes canais que unem pontos, corre a seiva onírica e psicanalítica da vida. Ela se esconde, mas tem um infinito potencial revelador. Ele domina cada gota de sangue, suor, bile, saliva, urina ou qualquer líquido oculto no interior de nossas aparências. Invejo aqueles que passam os dias fugindo deste universo insondável, pensando que conseguem. Deve ser difícil atravessar uma existência feita por frases de efeito que enganam sentimentos. De silêncios enigmáticos disfarçados de sabedoria. De meias palavras. De sorrisos pela metade. De olhares hirsutos e feições melífluas. E de ser reconhecido por tudo isso, fazer até sucesso, sem, no entanto, se reconhecer. Obrigar o outro a se desdobrar para descobrir verdades nos mínimos detalhes, na posição das mãos, na angulação das sobrancelhas, no brilho dos olhos. Ou então deixá-lo extenuado em sua procura, para que se conforme com a padronização do "não me pergunte nada mais além disso". Pergunte-me, você, se falo de alguém especificamente. Direi que sim, mas me sinto no direito de não dizer quem. Afinal, eles são um e muitos. Vou usar do mesmo artifício que embala a crítica deste texto. Quero experimentar não me expor. Quero me preservar por medo e por interesse. Quero tentar ser igual a eles. Pela primeira vez.

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