domingo, 16 de maio de 2010

Geologia

Havia algo fendido dentro de mim, fragmentado como um cânyon. De profundidade quase infinita sem encontro com leito de rio. Sedimentos eram expostos à geologia social, nas camadas mais aparentes, nos afluentes que fluem águas rasas havia essas fendas, abertas em vales, cobertas pelo tecido suave e azulado do céu, estonteante em luz intensa, sem adornos, sem aconchego, em pedras duras desprotegidas, erodidas por raios corrosivos de sol escaldante e dor lancinante, sem flores, sem pássaros, sem água, sem sonho.
Um dia, alguém com seu cajado transformou essa fenda, como Moisés repartiu as águas do mar para a passagem de um povo. Eu então passei, encontrei paisagens arrebatadoras, realçadas pelo verde de cintilantes colinas, pela dança silenciosa do mar, pela luz rosada do entardecer. Vistas que apaziguaram a fúria seca de meu deserto interior.
Não estou mentindo. Essas palavras foram escritas com o doce gosto do néctar, o refresco do orvalho e a sombra úmida de uma árvore em torno de um lago. Boa noite céu estrelado, em seu veludo escuro só vejo a luz radiante das opalas e das esmeraldas. E o sorriso da lua minguante, como um risco num pálio de seda. Havia algo fendido dentro de mim que foi preenchido pelo que mais me assustava. O tempo, o amadurecimento, o mistério do universo.

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