segunda-feira, 24 de maio de 2010

Ouro

Midas aceitou a dádiva de transformar em ouro tudo que tocasse. No início, exultou. No caminho de volta para casa, tocou em uma folha, que logo pendeu pesada e reluzente. Viu a pedra que segurava se transformar em jazida. Em casa, que simboliza a sua intimidade, exasperou-se. O encanto tirava a vida de tudo: da maçã que iria comer, do vinho que iria beber, da filha que tanto amava. Percebeu que fizera péssimo negócio induzido pela ganância. Conseguiu desfazer o feitiço e buscou refúgio nas florestas de Pã.
Nos cofres do Tio Patinhas, se acumulavam pedras preciosas, colares de diamantes, brilhantes, moedas, anéis de prata, barras de ouro. Uma fortuna, nunca utilizada. A necessidade de aumentar a quantia só existia para acalmar a ânsia incontida de seu dono. Cada nova riqueza era despejada nos porões de sua casa, onde reinava sua intimidade, após descer grandiosa escada da mansão isolada no alto de um morro.
Midas se afogou na ambição. Patinhas derreteu solitário, na inanição de sua mesquinhez. Difícil essa questão de lidar com o ouro que transborda em nós. Escondemos sorrisos, olhares e opiniões que brilham para não assustar o mundo e paralisá-lo com muita luz. E para não sermos roubados, deixamos tudo isso escondido embaixo das escadas sombrias de nossas moradas.

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