quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Companheiros

Não sou egoísta. Apenas amo meus rins. Quero que o processo de filtrar e excretar impurezas do corpo por meio do ato de urinar seja o melhor possível. Não gosto de maltratá-los. Sinto-me altruísta em me preocupar com meu fígado. Vejo-o como um operário do meu corpo. Agradeço todos os dias por sua textura lisa e seu formato perfeito. Adoro também meu coração, escuto constantemente o seu pulsar e até converso com ele. Digo "calma" quando o percebo acelerado e me sinto ofegante. Ele me pede que eu pare, eu, sempre que posso, paro para descansar, refletir, respirar. E colocar nos meus pulmões, outros dos quais sou fã, o ar mais tranquilo possível. Poderia falar das minhas artérias, pelas quais tenho o maior carinho, das minhas delicadas veias que interligam meu corpo como rotas de seda pura e facilitam minha comunicação interna. Levam meu sangue do Oiapoque ao Chuí, percorrendo com precisão o meu território ornado de plaquetas, leucócitos, complexos de Golgi que precisam ser bem tratados. Fico admirado com o tamanho das minhas células, tão pequeninas e eficientes. Faço de tudo para que elas se alimentem direitinho, para que seus núcleos permaneçam fortes e mantenham as informações preciosas que carrego dentro de mim. Ficaria horas discorrendo sobre meus órgãos, todos disciplinados, exigentes, que só me retribuem satisfatoriamente se estão felizes. São semelhantes em cada indivíduo, mas ao mesmo tempo únicos em cada corpo. Especiais e imprescindíveis à sua maneira. O mais ardiloso de todos, porém, é o meu cérebro. Ele já, por várias vezes, tentou me enganar, induzindo-me a me esquecer dos meus órgãos só porque eu nunca os vi. Cérebro invejoso...Procuro sempre orientá-lo, como a uma criança, para que desenvolva seu lado sábio. Aquele que me conta que meus órgãos me acompanham desde o meu nascimento. São meus mais fieis amigos. São meu espelho. Se eles não estão bem, não fico bem e vice-versa. Não gostaria de viver para desrespeitá-los. Para me esquecer deles. Seria ingraditão. Tenho uma responsabilidade e me sinto na obrigação de cuidar deles. Se fizesse o contrário estaria sendo enganado pelo ardil da minha mente. Nada mais do que isso. Não sou egoísta. Apenas sou solidário aos meus companheiros e a mim mesmo. Para fazer minha parte pela sociedade. Ah, antes que eu me esqueça, gostaria de terminar deixando um caloroso beijo ao meu tão querido pâncreas.

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