terça-feira, 6 de setembro de 2011

Frieza

Sócrates sempre foi um grande ídolo para mim. Sua presença se destacava no campo. Alto, esguio e extremamente técnico. Elegante, habilidoso. Discreto na comemoração, apenas erguendo o braço. Às vezes frio, às vezes sentimental. Muitas vezes introspectivo. Por tudo isso o admirava. Havia algo do meu pai nele. Uma racionalidade em busca de respostas para os dilemas da vida. Como se o toque de calcanhar fosse uma delas: em vez de girar o corpo, ir para lá e para cá, gesticular...vamos direto ao ponto. Com o tempo, me desapeguei do futebol, por causa de seus descaminhos. Achei que, de certa maneira, tinha me esquecido do Doutor Sócrates, até ficar sabendo que seu estado era grave. Em vez de no campo, estava no leito. Era um sinal de que eu também não era mais criança. Olhei para o meu filho, após receber a notícia pela TV. Ele viu meu rosto preocupado. "O que aconteceu?", perguntou. Fingi que não era nada. Fingi como aprendi a fingir para despistar as decepções. Como fingia que não gostava mais tanto de futebol. Pensei de repente em levar meu filho ao hospital para, junto comigo, ver meu ídolo de longe. Dar uma força a ele, lá do corredor. Mas desisti porque sabia que não iria mais conseguir esconder meus sentimentos. Eu iria chorar.

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