sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Telefonema

Um dia, quando eu tinha mais de 40 anos, liguei para 624395. Era o número da menina que eu amava no colégio. Ela atendeu, com os mesmos 13 anos. Perguntei: “Quem é?” Ela respondeu “é a ...” Conversamos por horas, como no passado. Ela falou das questões de nossa escola, de como se via no futuro e de como me via no futuro. Confessou que imaginava para mim uma situação bem mais confortável, como a de um diretor de jornal ou de escritor consagrado. Disse a ela que a vida nem sempre realiza o que esperávamos, mas mesmo assim não podemos perder a esperança. E contei que queria estar lá, ao lado dela, naquela casa que eu idealizava, naquele tempo, mas isso não seria possível. Ela admitiu que me ama (ou me amava). Que sente ciúmes de mim quando me vê brincando com outra amiga no recreio. E que adora quando eu vou de bicicleta até lá. Foi uma revelação importante. Eu admiti que a amava, mas que era tímido demais para dizer pessoalmente. E que às vezes tinha prazer em contemplá-la, subjetivamente. Como estava fazendo com o passado, naquele momento. Contemplando para me fortalecer e entender um pouco mais o que fiz, como vivi. Ia desligar, quando desconfiei de que tudo não passava de um sonho. Acendi a luz do quarto, até me belisquei. Então, ainda na linha, ouvi do celular uma voz de menina. Ela dizia, “alô, alô”. E como ninguém respondia, encerrou o telefonema.“Boa noite. Tenho de desligar porque preciso dormir cedo. Amanhã temos aula. Foi bom falar com você, onde quer que esteja”. Percebi então, que tudo isso não foi um sonho. E que também não foi engano.

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