terça-feira, 20 de setembro de 2011

Distância

Quando o menino deixou o Rio de Janeiro rumo a São Paulo, seus olhos eram castanhos claros. Ele era gordinho, tinha pintinhas na cara e cabelos também em tom castanho. Estava sempre sorrindo. Sua ironia era fina. Parecia feliz, mesmo tendo se mudado por causa da separação dos pais. Foi com a mãe e as irmãs para a selva de pedra, acinzentada. Bem recebido pelos colegas, até que se adaptou logo. Passou a ir pouco ao Rio. Seu pai, homossexual (o que acelerou a separação), continuou tendo boa vida por lá, morando em uma praia nobre. Vivia nos melhores restaurantes do Leblon, andava em bons carros e em alta velocidade. Parecia um personagem glamouroso de novela das oito. Mas estava longe do filhão. Queria mostrar a ele que tinha qualidades, que era um homem forte. Não apenas uma bicha, estereótipo muito utilizado naquele tempo. O filho, por sua vez, se orgulhava do pai do jeito que ele era. Às vezes lutava contra si para se convencer disso. Durante as brincadeiras no recreio, não demonstrava sua tristeza. Até que disfarçava bem. O fato é que, depois de um tempo, os olhos do garoto ficaram azuis. Da cor do mar e do céu límpido do Rio. Era uma forma de ele carregar, por onde quer que fosse, um pouco da cidade onde nasceu. E, junto com ela, o seu pai.

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