segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Menina

A menina era conhecida na escola por "ficar" com muitos meninos. Chamavam-na de “vaquinha”, em risinhos cada vez que ela passava, sem amigas, no pátio no recreio. Tinha 14 anos, cabelos lisos e longos, corpo magro. Sorria pouco. Ela sentia dificuldades de comunicação, talvez medo das pessoas. Mas não quer dizer que o que contavam sobre ela era verdade. As histórias dos adolescentes tinham um tempero apimentado, cruel e exagerado. Talvez tenha dado um beijo em um ou dois meninos. Talvez, tempos depois, tenha transado um pouco mais cedo do que as colegas, por alguma carência. Ou para tentar encontrar um afeto que a acolhesse. A verdade é que outro dia a vi, no clube, já adulta com o seu filho. Ela tinha um ar maternal, responsável, doce. O menininho tinha cabelos lisos e olhos volumosos, brilhantes. Corria batendo uma bola de um lado a outro, sorrindo. Ele exalava doçura, deixando a praça e as árvores perfumadas. A mãe, mulher feita e amadurecida, o observava com amor e orgulho. “Oi mamãe”, o pequeno respondia com a mãozinha aberta. Ele não gostaria de saber que a chamavam de vaquinha.

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