segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Leituras

Bialik era o nome da escola em que seu pai o colocou na infância. Bialik era um escritor judeu russo, conhecido, do início do século passado. Bialik, para ele, foi a história da história. Lá aprendeu a ler e escrever. E enquanto seu pai estava deitado na cama, no hospital, ele sentou-se à beira do leito e começou a ler em voz alta o início do livro A trombeta envergonhada. Em uma das passagens Bialik relata em tom sensível momentos de sua infância, seu medo dos adultos opressores, sua saudade dos campos e matas que podia contemplar como um abraço do universo. O pai, atento, buscava resumir cada trecho, destrinchando detalhes, ainda que com a voz enfraquecida pela doença. O filho, emocionado, sentia-se levado também a tempos antigos, quando o pai, na melhor de suas formas, ficava até tarde o acompanhando nos estudos. Enquanto ele lia, as lembranças vinham, junto com o soluço, atropelando suas palavras, trazendo de volta as lições tomadas à noite, em outras leituras, numa reminiscência bialikana que substituiu seu adeus.

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