segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Andarilhos

Encontraram-se novamente em Nova Iorque. Ele chegou naqueles táxis amarelos. Mal apertou o número 10 da botoneira e lá estava o velho amigo, abrindo-lhe as portas do pequeno edifício da rua 52, east side. Foi um tanto constrangedor, isso ficou perceptível no sorriso amarelo de ambos. Afinal, viam-se, antes da viagem, quase diariamente, e aquela familiaridade pareceu esquivar-se no reencontro. Dos olhares, no entanto, hauria uma alegria incandescente.
Logo recuperaram a afinidade. Não precisavam conversar para intuir o que sentiam. O hóspede, amparado pelo núcleo acolhedor que simbolizava aquele apartamento, desfrutou a cidade com prazer especial. Enquanto o companheiro trabalhava, ele andava pelas ruas repletas de todo o tipo de gente, admirando a peculiaridade de cada um. Passeou pela beleza das tardes douradas no parque. Entrou nos museus, visitou locais tradicionais, outros desconhecidos, procurou captar todos os detalhes daquela metrópole pungente.
E à noite, iam jantar em restaurantes, colocando a conversa em dia. Quando não havia o que falar, voltavam a pé por quarteirões, embebidos pelo luar, ouvindo músicas do Sting, imersos cada um em seus fones de ouvido. O diálogo, nessas ocasiões, era feito pelo ritmo dos passos, pelos vultos andarilhos dos dois, que se revezavam, distorcidos e efêmeros, nas paredes iluminadas, dando a confortável percepção da presença do outro.
Foi uma temporada intensa, passou rápido. Serviu para que ele se revigorasse ao fortalecer ainda mais aquele vínculo. Na volta, rumo ao aeroporto, após se despedir, olhou para trás e viu, da ponte, a cordilheira de prédios candentes. Sentiu uma enorme gratidão por aquela massa urbana imprevisível, construída à imagem e semelhança dos seus habitantes, os cidadãos do mundo. Pensou que deixara lá um pouco de si, naqueles momentos de pura amizade. Pensou no parceiro que ficara, mantendo a cidade com o calor de sua individualidade. O cenário, naqueles dias, pareceu ter se contagiado com aquela empatia mútua, que já não acalentava a necessidade fremente da presença física. Experiências deste tipo, boas ou más, devem ocorrer com todos os turistas e moradores de lá, porque são as relações humanas que constroem uma cidade. Se não fosse assim, e sem o seu melhor amigo, Nova Iorque não seria tão linda.

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