quarta-feira, 25 de maio de 2011

Peças

Assim eram aqueles dias, temperados pela paixão pela seleção brasileira, pela emoção da Copa de 1982 e pelas quintas-feiras em que assistiam à cerimônia de colocação dos tefilin, anterior ao bar-mitzvá. Era uma alegria mudar a rotina e ser especialmente convidado para o evento. Em vez de estar na escola, o grupo de amigos ia para a sinagoga, aprontando no carro, depois da meninada ter dormido na mesma casa, para não perder a hora. Assim eram aqueles dias, pedaços de um quadro, peças de um quebra-cabeça intrigante, que despertava indagações, temores. Ele amava tudo aquilo. As noites. A volta para casa no carro de algum pai de plantão, pela ruas vazias da madrugada. Adorava seus amigos e a expectativa daqueles dias. É verdade que o mundo promissor, sem injustiças e repleto de conquistas, não obedeceu à imaginação adolescente. Muita coisa se perdeu no caminho, em meio a decepções. Mas passado o furacão, ele finalmente, como se acordasse de um pesadelo, pode visualizar, de novo, aqueles tempos com carinho. Sentiu entusiasmo ao perceber que, por outro lado, tais sonhos se realizaram, não em um conto de fadas, mas na realidade da vida. Reviu a imagem daquele quadro, formado por mil peças de bar-mitzvás, aventuras e lembranças. Ela, afinal, existe até hoje. É a imagem de um coração de menino, que apenas amadureceu.

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