sexta-feira, 27 de maio de 2011

Luar

Naquele apartamento, a sala tinha móveis simples, dois sofás e uma mesa de vidro. Na geladeirinha no canto da cozinha, apenas o necessário. Depois vinha um corredor, que dava para um banheiro e um amplo quarto acarpetado. No armário embutido, não havia só roupas. Havia sua coleção de miniaturas, colocada em estantes internas, como se ele colocasse naquele armário não só sua vestimenta aparente, mas a necessidade de guardar e organizar as pequenas riquezas que tinha dentro de si. Da janela, avistava uma linha de prédios que davam para o céu amplo da Marginal. Escolheu morar lá por divagação. Ao observar aquela vista, lembrou-se da música do Yes, Owner of a lonely heart, famosa em sua adolescência e, temperado de uma nostalgia, se encantou com o lugar. Era ótimo. Os porteiros eram como parentes. Os vizinhos, companheiros de morada. Ele escolhia os amigos que vinham. Só os mais próximos. Só namoradas com um vínculo especial. Nisto, sua coleção nunca foi muito grande. Os filmes e as novelas também o preenchiam, até a madrugada. Gostava ainda de abrir a janela e ver que a lua estava lá, convidativa e iluminada. Ela era como uma pessoa diferente de tantas outras. Dela ele não tinha medo. Chegou a ver o seu rosto naquela superfície prateada. Antes de fechar a janela, ele sempre falava baixinho, em tom solene. “Boa noite, lua”. Era como uma reza, um pedido de proteção.

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