segunda-feira, 2 de maio de 2011

Entardecer

Fim de tarde na praia deserta. Ele brincava com o menino e sentiu a imagem de ambos se envolver no cenário paradisíaco. Ao fundo, um horizonte laranja, temperado por nuvens rosas e um toque azul do céu. À sua frente, o olhar da criança, de pele clarinha e olhos pretos, que corria de lá para cá, à beira-mar, chutando uma bolinha colorida, feita de borracha pesada. E o verde da mata que circundava a areia bege dava uma coloração final à cena.
Ele contemplava tudo como se observasse um quadro de Monet, em que as cores impressionistas mesclavam-se e se transformavam em sonho. Ao mesmo tempo, participava da brincadeira. Dizia para o garotinho sorridente. “Olha para a bola”. E ele às vezes acertava um chute certeiro para o alto, com sua canhotinha lisa, atingindo uma altura invejável para seus pouco mais de dois anos. Num dos chutes, a bola caiu no mar, sob o segredo das ondas brancas. A criança então criou uma história. “A bolinha ficou no mar, os peixes estão brincando com ela”. Mesmo assim, insistiu em procurá-la, insatisfeito com a perda e curioso em relação aos mistérios que o oceano propicia. Onde fora parar aquela bolinha? O homem pediu que ele voltasse à areia. Estava ficando um tanto fundo. O menino, contrariado, não obedeceu. E para evitar maiores riscos, ele teve de entrar na água, de tênis, sem deixar de dar uma leve reprimenda na criança. Alçou seu corpo no colo e ouviu a voz fininha em harmonia com o som da maresia. “Os peixes estão com ela”. Lembrou-se que a bolinha tinha traços coloridos, com as mesmas cores que os cercavam: verde, rosa, laranja, azul e bege: mata, nuvem, horizonte, céu e areia. Não era coincidência. Era como a energia nuclear. Carregada de intensidade concentrada, a bolinha tinha muito dos dois, pai e filho. Ela ficou por lá, pequeno núcleo de cores, marcada de amor, alegria, esperança e força vital. Como um poema colorido. Como um quadro impressionista ou a página de uma história qualquer. No fundo do mar, para todo o sempre, ficou um pedaço daquela tarde.

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