segunda-feira, 19 de abril de 2010

Começo e fim

Amigos de infância podem ser meros desconhecidos em tempos futuros. E colegas podem se tornar, com o amadurecimento, bons amigos. Há um espaço transitório em que essas premissas se misturam. Pensou nisso outro dia, quando se lembrou daquele rapaz, outrora um companheiro de escola.
Recebeu-o no dia do enterro de seu pai, na entrada do velório. O moço se desculpou, primeiramente, por não ter ido à circuncisão do seu filho. E disse fazer questão de compensar sua falha com a ida ao funeral.
Na hora ele compreendeu a atitude. Claro, mal podia pensar. Até agradeceu, comovido. Meses depois é que veio a dúvida. De repente refletiu. Era inversa a relação entre um enterro e um brit-milá. O fato de ir a um não compensa a ausência no outro. Pode ser mais fácil e cômodo consolar um fim do que celebrar um começo.
Então ele pensou na vida como um espaço transitório até a morte, nessa passagem cheia de alegrias e tristezas. Travessia implacável, sem volta. Somos obrigados a ser tolerantes diante das dúvidas insolúveis. E aceitar o enigma das pessoas. Que nos impedem de decifrar se elas são realmente nossas amigas ou colegas.

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