segunda-feira, 19 de abril de 2010

Origem

O nome Corinthians é de origem inglesa, assim como o futebol. Ambos chegaram ao Brasil pelos caminhos da história e se popularizaram. Entrei nessa miscelânea com minha origem russa. Em 1976, na sala de casa, pedia insistentemente uma bicicleta para meus pais. Sonho comum a todos os meninos de sete anos.
Sem recursos momentâneos, meu pai, em frente à TV já colorida, me apontou para tela e, com seu jeito terno e conciliador, me apresentou outra opção. “Vamos ver o jogo do Corinthians.” Aceitei o acordo. Corinthians e Fluminense, semifinal do brasileiro fizeram um jogo histórico.
A chuva dava um toque épico, abençoando os 120 mil presentes no Maracanã. Mais da metade era de corintianos, o que me empolgou. Ver, mesmo à distância, aquela vibração de uma massa humana por um time, uma causa, um símbolo de identidade, me tocou. Assim como a luta dos jogadores corintianos para superar a maior técnica do adversário. E vencer.
O auge desta saga, vivida em minha imaginação sentado no tapete, ocorreu ainda no primeiro tempo. O Corinthians perdia. Após um escanteio, a bola sobrou para um tal de Ruço, desengonçado, quase caindo fazer um gol de puxeta, na pequena área.
Ele tinha um cabelão permanente e ruivo. Fez o golaço mais feio que já vi. Discreto, disciplinado, fazia seu estilo rude parecer doce. Como se estivesse conformado, e feliz, com suas limitações. Como jogador e como brasileiro, carioca do subúrbio de Madureira.
A discrição russa, no brasileiro Ruço, mesclaram mais um ingrediente neste caldeirão do futebol. Este tempero, no entanto, foi feito só para mim. E assim me tornei corintiano. Passei a vivenciar todas as implicações desta nova paixão. Em vez de uma bicicleta, ganhei para sempre um presente melhor. Graças a uma meia-bicicleta.

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